segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Artigo: O desafio de fazer Educação Ambiental

Marília Chinchila, socióloga.
Atua na Educação Ambiental no CEA Polonês.

Acredito que a educação possa se dar em todo e qualquer espaço, inclusive o virtual, mas acredito também que a existência de um espaço físico e concreto seja de relevante importância para o desenvolvimento de trabalhos na área de Educação Ambiental.

Com a inauguração do Centro de Educação Ambiental Polonês, visualizo possibilidades interessantes a serem realizadas no campo da educação formal e da não-formal, conforme preconiza a Lei N° 9.795 /99, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, que em seu Art. 2° afirma: "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”.

A vivência deste lugar me faz perceber que até pouco tempo atrás ele era exclusivo de alguns usuários: capivaras, cotias, gambás, saguis e pássaros. Muitos pássaros. Agora, fico imaginando se eles também percebem outros animais - os humanos, compartilhando o mesmo espaço. Teremos que nos adaptar: nós e eles. As capivaras, por exemplo, vêem à noite. Sei que elas frequentam esse espaço porque deixam montinhos de fezes ao longo dos caminhos. Mas nunca as vi. Onde elas ficam de dia? Ao longo do córrego, dizem. Será que elas percebem algum rastro humano aqui no Centro e se perguntam sobre onde nós
ficamos? Pois é, esse espaço provoca em mim reflexões desse tipo. Fazem com que eu o perceba como não exclusivamente humano, como espaço também compartilhado por outros animais e por seres dos reinos vegetal e mineral. E com a percepção corpórea, sensorial, mais que meramente intelectual, de que tudo está interligado, de que tudo é uno.

Remeto ao poeta português Fernando Pessoa, que diz em um poema: “Eu nem sequer sou poeta. Vejo.” E aqui é um espaço privilegiado para ver, como Pessoa via. Se estivermos com os sentidos abertos, poderemos sentir a suave brisa ou o vento forte, ouvir os sons dos pássaros e o correr das águas. Poderemos também perceber as mudanças nas árvores: a queda das folhas, a brotação, a floração. O ciclo da vida: nascimento, crescimento e morte. O eterno transformar, a eterna mudança. Poderemos também nos perguntar sobre quantos tons de verde existem. Ou observar os desenhos que o sol faz na grama, usando as árvores como se fossem lápis de cor.

E aqui temos um desafio: o de intervir para recuperar as margens do Córrego Sóter, maltratado pelas intervenções humanas. Mas ainda assim correndo pro rio que corre pro mar. E de novo remetendo à arte, desta vez ao compositor Caetano Veloso, que tão maravilhosamente canta em Luz do Sol:


“Luz do sol que a folha traga e traduz em verde novo, em folha, em graça, em vida, em cor, em luz...
Céu azul que vem até onde os pés tocam na terra e a terra respira e exala os seus azuis...
Reza, reza o rio. Córrego pro rio, o rio pro mar...
Reza a correnteza. Corre, desce e doura a areia...
Marcha o homem sobre o chão, leva no coração uma ferida acesa...
Dono do sim e do não diante da visão da infinita beleza.
Finda por ferir com a mão essa delicadeza, a coisa mais querida. A glória da vida....
Luz do sol que a folha traga e traduz em verde novo, em folha, em graça, em vida, em cor, em luz...”


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